Quando eu era miúda

Quando eu era miúda faziam-se festas como estas que ainda agora passaram.
Eram como estas, mas eram maiores.
Àquelas festas íamos todos. Graúdos e miúdos.
E eram o Natal e o Fim de Ano, os casamentos e os baptizados, os churrascos e as matanças, a Páscoa e os aniversários.
Íamos todos e éramos muitos, dos avós aos netos. E às vezes os vizinhos, também.
E havia de tudo.
Da sardinha ao frango, da bifana ao cozido, do bacalhau ao cabrito, não faltava nada.
Mesmo quando havia pouco, não faltava nada.
E comia-se e bebia-se e brincava-se e dançava-se, quando eu era miúda.
Havia histórias para contar e anedotas para rir e guitarra para tocar e vozes para cantar.
Quando eu era miúda havia de tudo. Nas festas.
E havia homens para um lado e mulheres para o outro.
E chegavam as filhozes e os sonhos, o salame e o arroz doce, o pudim e a mousse. Vinha tudo de uma só vez, para alegria dos miúdos. E dos graúdos.
E exaltavam-se os ânimos e elevavam-se as vozes, discutia-se a política e o futebol, zangavam-se as comadres e descobriam-se as novidades.
E havia birras e amuos, gritos e lágrimas, beijos e abraços.
E havia amor e alegria, quando eu era miúda.
E passava tudo.
E ficávamos bem.
Todos juntos, não nos faltava nada.
Dos avós aos netos. E às vezes os vizinhos, também.
E havia beijos e abraços, até breve e até já, que no ano seguinte havia mais e íamos todos outra vez. Miúdos e graúdos.
Porque mesmo que não fosse melhor, bastava-nos que a festa fosse igual.
Quando eu era miúda faziam-se festas como estas que ainda agora passaram.

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