Shhhh…
Tic… Tac… Tic… Tac…
São as 10…
E ela dorme.
Serena.
Longe dos saltos, das corridas, dos gritos, dos risos, dos perentórios não.
Não vou.
Não dou.
Não faço.
Não como.
Não quero.
Não.
NÃO!
E eu, sim.
Eu quero. Quero-te tanto. Sempre te quis.
Esperei tanto para te ver dormir aqui, assim, aninhada a mim agora que há tanto já não estás em mim.
Quis-te ainda antes de seres aquela bolinha vibrante em escala de cinzentos que trouxemos impressa para casa.
Quis-te ainda antes de te ter sentido pela primeira vez, antes de te ter cantado pela primeira vez, antes de te ter lido a primeira história, antes ainda daquele baile lento que dançámos só nós duas na cozinha enquanto o bacalhau assava. Eu segurava a barriga e tu davas ao pé. Contei-te os dedos todos naquele baile: cinco em cada pé, cinco em cada mão.
Demoraste a chegar.
Soubeste fazer-te esperar.
A parteira queria chamar-te Domingas porque vinhas tão atrasada, mas eu não deixei.
Disse-me que eras perfeita. Mas isso já eu sabia.
Tinha-te contado os dedos todos naquele baile: cinco em cada pé, cinco em cada mão. E eu que te segurava na minha barriga.
Como tu seguras agora na minha mão.
Serena.
São as 10…
E ela dorme.
Shhhh…
Serena
